Roney Belhassof<p><strong>Tenho visto as estrelas se apagarem…</strong></p><p>Na série Doctor Who o protagonista vai até os momentos finais da existência do Universo atrás da personagem Ashildur (vivida por Maisie Williams), ou Me, como prefere ser chamada, e vemos esse breve diálogo que começa com Me dizendo:</p><p>— Tenho visto as estrelas se apagarem, é lindo…</p><p>— Não! É triste!</p><p>— É ambos. Esse é o seu problema, você não admite que as coisas tem um final.</p><p>É uma das três cenas da série que ecoam em mim com mais frequência porque entendo que a vida é movimento, é transformação, é mutação e, para isso é necessário que as coisas terminem.</p><p>Nós ainda estamos num período de florescimento no Universo, então as estrelas não se apagam, elas explodem espalhando mais possibilidades de transformação e de vida pelo Cosmos.</p><p>Tenho que admitir que é um jeito um tanto exagerado e pretensioso de introduzir o tema desse post: relacionamento.</p><p>Acontece que, da nossa perspectiva humana, as nossas relações são mais importantes que estrelas, aliás, elas são exatamente como estrelas: alimentam e dão sentido à vida e esperamos que sejam eternas.</p><p>No entanto a expectativa de eternidade é irreal. Os relacionamentos que se mantém em movimento, que estão se transformando, são os que mais enriquecem a nossa experiência ao logo do período que existimos. Um relacionamento estável, imutável, se formos manter a soberba comparação com os astros, parece mais com um buraco negro.</p><p>Em tempo: nada contra relacionamentos “buraco negro”. Esse nome é muito injusto para os corpos celestes e mais ainda para as pessoas! Muitas vezes a gente precisa de estabilidade e segurança. E aqui não falando apenas em casamentos, mas em amizades e relações entre crianças e as pessoas que cuidam delas.</p><p><strong>Mas esse post é sobre o fim de um casamento: o que existiu por 40 anos entre Cláudia e eu</strong>.</p><p>Foi ela que tomou a iniciativa: “A gente é mais amigo que casal faz muito tempo, acho que a gente deve se separar.”</p><p>Imagino que, principalmente quem nos conhece, deve chegar nesse ponto pensando que “mas se tem amizade! Porque não seguir assim?”. Por isso fiz a longa introdução: porque estava estagnado. Nosso relacionamento não estava nos fazendo nos mover, nos transformar, nem como amigues, nem individualmente.</p><p>Na hora que ela pediu vou confessar que eu estava satisfeito com a estagnação e lamentei; mas, vendo que era mesmo uma decisão bem pensada, somente perguntei como ela queria fazer, se eu devia ir morar em outro lugar.</p><p>Demorei uns dias para perceber a inércia, a baixa entropia, em que estávamos. Muitas vezes a gente não nota, né? Principalmente porque vivemos tempos cansativos e facilmente desejamos a inércia.</p><p>Entropia, a propósito, tem muito a ver com quantidade de possibilidades: quanto maior a entropia, mais dinâmico e diversificado é o ambiente, em uma interpretação livre, claro.</p><p>Continuamos dividindo o mesmo teto até que ambos tenham estabilidade financeira para se manterem sozinhos e para outras coisas serem resolvidas, mas o apartamento é grande e, mantendo a metáfora cósmica, somos mais parecidos com duas estrelas que estiveram compartilhando a órbita por um tempo e agora se afastam lentamente do que com um encontro intenso e turbulento.</p><p>Contamos para bem poucas pessoas e queríamos contar pessoalmente porque as coisas que envolvem histórias de vida exigem a presença física, ou pelo menos uma presença visual. Além disso achávamos que as pessoas se preocupariam com a gente e, falando pessoalmente veriam que estamos mesmo bem, que ninguém brigou com ninguém e que, simplesmente, tem histórias que se transformam de um jeito que a gente acha que acabaram, mas é apenas uma outra história sendo vivida.</p><p>Fiz esse post porque já é hora. Talvez a gente também precisasse de um tempo para saber como contar de um jeito que as pessoas entendessem. Além disso não é segredo e estamos contanto para cada vez mais pessoas, então é melhor contar para todo mundo, mas não para os feudos digitais da Meta, né? Vou mandar esse post para as pessoas, provavelmente colocar o link para ele nos feudos, mas primeiro vai para o Fediverso porque ele é uma rede de pessoas e porque esse site é parte dessa rede e os posts fazem parte dela automaticamente.</p><p>Se você não tem mais meu contato pode mandar email pelo <a href="https://memedecarbono.com.br/contato" rel="nofollow noopener noreferrer" target="_blank">formulário de contato do Meme de Carbono</a>, ou falar comigo no Fediverso: <a rel="nofollow noopener noreferrer" class="u-url mention" href="https://bolha.us/@Roneyb" target="_blank">@<span>Roneyb</span></a>.</p><p>Imagem: <a href="https://apod.nasa.gov/apod/ap240104.html" rel="nofollow noopener noreferrer" target="_blank">Zeta Oph: Runaway Star</a> – Nasa</p><p><a rel="nofollow noopener noreferrer" class="hashtag u-tag u-category" href="https://www.roney.com.br/tag/amizade/" target="_blank">#amizade</a> <a rel="nofollow noopener noreferrer" class="hashtag u-tag u-category" href="https://www.roney.com.br/tag/amor/" target="_blank">#amor</a> <a rel="nofollow noopener noreferrer" class="hashtag u-tag u-category" href="https://www.roney.com.br/tag/casamento/" target="_blank">#casamento</a> <a rel="nofollow noopener noreferrer" class="hashtag u-tag u-category" href="https://www.roney.com.br/tag/relacionamento/" target="_blank">#relacionamento</a></p>